Por Marcus Fireman – Sócio Fundador da Climb Consulting Group
Me recordo sentado na cadeira do Norie – UFRGS durante uma disciplina de gerenciamento da produção, quando falei sobre um conceito que havia lido nos artigos da engenharia de produção. O conceito do Gargalo Flutuante foi algo que ficou na memória, talvez porque, quando mencionei ele na aula, muitos amigos de mestrado riram do termo.
Pois bem, analisando recentemente os desafios de empresas que atuam no setor da infraestrutura brasileira, o conceito de Gargalo Flutuante me veio novamente à memória. Por muitos anos, o setor de infraestrutura não esteve tão aquecido, em especial o segmento de Rodovia, que está em uma fase extraordinária, impulsionada por uma série de leilões nos últimos anos e no pipeline dos próximos 2 anos.
O conceito de gargalo flutuante sugere a importância de um sistema de produção compreender que, ao controlar um determinado gargalo, o sistema se movimenta e um novo gargalo passa a emergir. Isso é de fato o que está sendo visto no mercado atual. Por muitos anos, a falta de rodovias e a má qualidade delas foram o gargalo para o desenvolvimento do Brasil. Um agro pulsante sofria de forma recorrente pela falta de infraestrutura para escoar suas safras.
O fato é que, ao desatar o nó, o pujante número de obras que estão espalhadas pelo país sinaliza o surgimento de gargalos flutuantes a cada momento.
Desde o volume de matéria-prima, por exemplo, no último ano, estudos demonstram que a venda de CAP em algumas refinarias superou o auge de 2010. Estudos da FIESP de 2009 já sinalizavam que o desafio do asfalto vai além da produção e importação e envolve também a melhoria da infraestrutura para armazenamento e transporte do material.
Ao se solucionar este problema, surgem outros gargalos, que envolvem a capacidade de atendimento dos projetistas, a capacidade de avaliação das agências reguladoras, o número de equipamentos disponíveis no mercado, a mão de obra, licenças ambientais, etc.
Essa grande diversidade de potenciais gargalos demonstra a necessidade de uma maior colaboração entre instituições e mercado. No mundo tecnológico atual, é super importante termos dados compartilhados das obras para que todos os fornecedores possam se preparar para as demandas e evitarem o efeito chicote.
Dentro da filosofia Lean, ativo fundamental do sistema Toyota de produção, a existência de células rápidas de resposta tem papel fundamental para atuar nos novos gargalos.
Precisamos pegar os exemplos da pandemia, em que a Ambev em curto espaço de tempo passou a produzir álcool em gel em suas fábricas, até mesmo a adoção de construção modular em hospitais para ampliar rapidamente os leitos, e até o uso de novas tecnologias para atendimento online de pacientes diminuindo as filas nos hospitais.
Precisamos conectar as pontas que integram esse ecossistema para que o alto volume de obras não se torne um voo de galinha.