A estiagem no Amazonas tem exposto falhas críticas na infraestrutura de transporte, evidenciando a necessidade urgente de planejamento e investimentos. Com rios em níveis historicamente baixos, a região enfrenta dificuldades logísticas que afetam desde o abastecimento de comunidades ribeirinhas até o escoamento de produtos do Polo Industrial de Manaus (PIM). Enquanto isso, a ausência de propostas concretas do estado no Plano Nacional de Logística (PNL) 2035 preocupa especialistas, que veem uma oportunidade perdida para melhorar a conectividade e reduzir os efeitos das mudanças climáticas.
O impacto da estiagem no transporte e na educação
A seca recorde entre 2023 e 2024 trouxe consequências graves para o Amazonas. Mais de 862 mil pessoas foram diretamente afetadas, incluindo 7,3 mil estudantes que dependem de embarcações para chegar às escolas. Com a redução drástica dos níveis dos rios, o acesso às comunidades ribeirinhas tornou-se quase impossível, obrigando alunos a percorrer longas distâncias por terrenos acidentados. A Secretaria de Educação do Amazonas (Seduc) tem alertado para os riscos dessa situação, que compromete não apenas a segurança, mas também a frequência escolar.
No setor produtivo, a estiagem também deixou marcas. O Polo Industrial de Manaus, responsável por grande parte da economia estadual, enfrentou problemas no escoamento de mercadorias. O Centro das Indústrias do Amazonas (Cieam) estimou que os prejuízos superaram R$ 3,2 bilhões, somando perdas na indústria, no agronegócio e nos recursos federais destinados ao estado.
A BR-319 e os desafios da conectividade terrestre
A BR-319, rodovia que liga Manaus a Porto Velho, é um dos pontos mais críticos da infraestrutura regional. Com trechos interditados após o desabamento de duas pontes em 2022, a via segue sem reparos completos. A reconstrução, prevista para outubro de 2025, está a cargo da Construtora Etam Ltda, que assumiu o projeto após a rescisão do contrato com a J. Nasser Engenharia. O custo estimado é de R$ 28,8 milhões, mas especialistas questionam a viabilidade econômica e ambiental da obra.
Estudos como o “Viabilidade Econômica e Ambiental da BR-319” apontam que a reabertura completa da rodovia poderia resultar em desmatamento de até 9 milhões de hectares até 2050, com custos de manutenção superiores a R$ 700 milhões. Além disso, a construção de uma ferrovia paralela, frequentemente sugerida como alternativa, também é considerada inviável devido aos impactos ambientais e à necessidade de uma estrada de apoio.
As hidrovias e a necessidade de investimentos
Enquanto o transporte terrestre enfrenta obstáculos, as hidrovias continuam sendo a espinha dorsal da logística no Amazonas. Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) mostram que a região possui mais de 16 mil quilômetros de vias navegáveis, responsáveis pelo transporte de 71 milhões de toneladas de carga em 2022. No entanto, a estiagem reduziu o volume de cargas em 18,3% na bacia do Rio Negro, afetando principalmente o transporte de petróleo e derivados.
Para manter a navegabilidade, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) realizou obras de dragagem nos rios Amazonas e Solimões, com custos que chegaram a R$ 92,8 milhões apenas no trecho entre Manaus e Itacoatiara. Apesar da eficácia, a técnica gera debates sobre seus impactos ambientais e sociais, especialmente para comunidades que dependem dos rios para subsistência.
A busca por soluções e a participação do setor privado
Diante dos desafios, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) tem discutido alternativas, como a concessão de hidrovias à iniciativa privada. A primeira proposta envolve o rio Madeira, com um trecho de 1.075 quilômetros entre Porto Velho e sua foz. A medida, no entanto, é vista com ceticismo por entidades como o Cieam, que criticam a alta carga tributária e a falta de diálogo com o setor produtivo.
FAQ
- Qual é o impacto da estiagem no transporte hidroviário do Amazonas?
A estiagem reduziu os níveis dos rios, dificultando a navegação e o transporte de cargas. Em 2023, o volume de mercadorias transportadas na bacia do Rio Negro caiu 18,3%.
- Quais são os principais desafios da BR-319?
A rodovia enfrenta problemas de infraestrutura, como pontes desabadas e trechos interditados. A reconstrução completa é criticada por seus custos elevados e potenciais impactos ambientais.
- Como o Plano Nacional de Logística (PNL) 2035 pode ajudar o Amazonas?
O PNL 2035 prevê investimentos em modais como ferrovias e hidrovias, que poderiam melhorar a conectividade e reduzir os efeitos da estiagem. No entanto, a falta de contribuições do estado preocupa especialistas.