Os recentes leilões rodoviários no Brasil evidenciaram uma movimentação intensa de investidores estrangeiros. O certame que entregou ao consórcio formado por Construcap, Ohle e Copasa o trecho da BR-040 entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro reforçou a tendência. Com um aporte previsto de R$ 8,8 bilhões, a proposta, considerada agressiva frente aos demais concorrentes, incluiu um desconto de 14% na tarifa básica de pedágio, sinalizando apetite elevado pelo ativo.
O cenário é moldado por múltiplos fatores. Grupos como a espanhola Sacyr, que apesar de ter presença discreta no país, continua apostando em concessões, ou a italiana ASTM, controladora da EcoRodovias, líder no segmento nacional em extensão administrada, reforçam a participação estrangeira, que volta a ocupar protagonismo.
O interesse das empresas estrangeiras
O calendário federal indica 13 novos certames rodoviários ainda este ano. A partir de uma análise mais detalhada dos processos recentes, percebe-se que a competitividade dos leilões rodoviários tende a ser marcada pela presença estrangeira. Propostas agressivas, como a vista na BR-040, são indicativas do perfil dos novos entrantes, que buscam assegurar portfólios em mercados onde a competição se intensifica.
A francesa Vinci Highways já havia sinalizado esse movimento ao arrematar em 2023 a concessão da Rota dos Cristais, trecho da BR-040 entre Belo Horizonte e Cristalina, com quase 600 km. Os investimentos previstos no edital somam cifras que reafirmam o interesse das empresas em expandir operações em corredores logísticos vitais, como é o caso do agro mineiro.
Disputa pela Serra de Petrópolis
O projeto do trecho licitado inclui a retomada da construção do túnel de 4 km na Serra de Petrópolis, suspensa desde 2016, quando a Concer interrompeu os trabalhos. Com aproximadamente 80% das obras executadas, o túnel representa o maior desafio da concessão. Adicionalmente, o contrato contempla a construção de dois novos túneis, além de duplicação, ciclovias, viadutos, passarelas e vias marginais.
Essa complexidade elevou o grau de exigência técnica do edital, favorecendo consórcios com experiência internacional. A disputa acirrada evidenciou que o atrativo estrangeiro não se restringe a ativos prontos, mas também a projetos desafiadores com margens de retorno ajustadas.
Fator México na equação
O Ministério dos Transportes, ciente da atratividade do portfólio nacional, intensificou ações de aproximação com players estrangeiros. Em fevereiro, representantes da pasta foram ao México apresentar a carteira de concessões rodoviárias prevista para 2025. A missão surtiu efeito: empresas mexicanas como Quantum, Grupo INDI, Marhnos, Coconal, IDEAL, Hermes Infraestructura e o Fundo Capital Infraestrutura mostraram disposição em explorar o mercado brasileiro.
Esse interesse mexicano soma-se à crescente instabilidade em outras regiões, que tem levado investidores a buscarem ativos em territórios considerados mais previsíveis em termos de marcos regulatórios, apesar de seus desafios internos.
O pipeline mais robusto do mundo
Segundo o Ministério dos Transportes, o atual ciclo de leilões rodoviários do Brasil, com 11 certames já realizados, acumula investimentos acertados da ordem de R$ 131 bilhões. O governo federal enfatiza a pluralidade dos vencedores, com nove grupos diferentes arrematando os ativos, o que, na visão oficial, evidencia o dinamismo e a atratividade do mercado.
Com 15 novos leilões programados para 2025, dos quais dois já realizados e outros nove com editais prontos para serem publicados, o ambiente brasileiro se mantém atrativo para novos investidores. Não por acaso, empresas que já operam no México, responsáveis por administrar mais de 4.600 km de rodovias naquele país, buscam diversificar ativos em solo brasileiro.
Perspectivas do setor
Ao avaliar o ciclo atual de concessões, observa-se que o Brasil oferta mais do que números expressivos. A dimensão continental do país, associada a carências históricas de infraestrutura, cria condições únicas para que players estrangeiros encontrem projetos robustos em tamanho, demanda e potencial de retorno.
Além das rodovias, o país continua a ofertar oportunidades em ferrovias, portos e aeroportos, criando um ambiente diversificado que atende aos planos de expansão de conglomerados globais. A atratividade decorre, principalmente, da combinação de projetos volumosos com contratos de longo prazo e regras de licitação já amadurecidas, o que facilita a tomada de decisão dos consórcios internacionais.
Concorrência regional e novos desafios
A disputa por ativos rodoviários não ocorre em ambiente isolado. A América Latina se apresenta como alternativa à estagnação dos grandes projetos europeus e às incertezas nos Estados Unidos e Ásia. Dentro desse contexto, o Brasil desponta como protagonista regional, atraindo empresas europeias, mexicanas, asiáticas e norte-americanas.
O desafio interno, porém, permanece. Questões como segurança jurídica, morosidade em liberações ambientais e conflitos contratuais históricos ainda pesam na decisão de investidores. A batalha judicial que envolveu a Concer desde 2014, com reflexos que se estenderam por quase uma década, serve de alerta sobre os riscos do mercado nacional.
Mesmo com essas ressalvas, a conjuntura internacional empurra investidores para mercados emergentes, e o Brasil se posiciona como destino preferencial não por confiar cegamente no ambiente local, mas pela busca de alternativas viáveis a contextos externos cada vez mais voláteis.
FAQ – Rodovias brasileiras em pauta
1 – Qual o investimento previsto para o trecho da BR-040 entre Juiz de Fora e Rio de Janeiro? O investimento estipulado no edital é de R$ 8,8 bilhões, incluindo obras, manutenção e operação ao longo dos 30 anos da concessão.
2 – Quem arrematou a concessão da BR-040 entre Juiz de Fora e Rio? O consórcio formado por Construcap, Ohle e Copasa foi o vencedor, oferecendo desconto de 14% na tarifa de pedágio.
3 – Quantos leilões rodoviários o governo federal programou para 2025? O cronograma prevê 15 leilões, sendo que dois já ocorreram e outros nove possuem editais prontos para publicação.
4 – Por que investidores mexicanos estão interessados no mercado brasileiro de concessões? Empresas mexicanas enxergam no Brasil a oportunidade de expandir negócios diante da estagnação de projetos em outras regiões e da extensa carteira de obras ofertadas pelo governo federal.[h3] 5 – Quais são os desafios enfrentados por investidores estrangeiros no Brasil? Os principais desafios incluem questões contratuais, insegurança jurídica, licenciamento ambiental demorado e a necessidade de lidar com complexos projetos de engenharia em territórios de difícil acesso.