A Eletrobras, maior empresa geradora de energia elétrica do Brasil, está fortalecendo sua posição no setor, com foco na modernização de usinas hidrelétricas e defendendo a necessidade de aprimorar as regras de remuneração para essas instalações. Com quase 43 GW de capacidade instalada, na maioria proveniente de hidrelétricas, a empresa enfatiza o papel vital dessas unidades no equilíbrio do Sistema Interligado Nacional (SIN) e no fornecimento de energia em momentos críticos, especialmente diante da crescente participação de fontes intermitentes como a energia solar e eólica.
Hidrelétricas e o sistema elétrico nacional
As hidrelétricas, apesar de representarem uma fatia menor da matriz elétrica brasileira comparada a décadas passadas, ainda são fundamentais para a operação do sistema elétrico do país. Elas garantem o fornecimento de energia em momentos em que outras fontes, como a eólica e a solar, são menos eficazes devido à sua intermitência. A capacidade dessas usinas de armazenar água nos reservatórios e liberar energia conforme a demanda faz com que sejam essenciais para equilibrar variações no sistema.
Segundo dados da Eletrobras, atualmente o Brasil tem cerca de 103 GW de potência instalada em hidrelétricas, sendo que a empresa participa de importantes empreendimentos como as usinas de Tucuruí, Sobradinho, Xingó, Furnas, Santo Antônio e Belo Monte. Embora já tenha um portfólio robusto, a empresa destaca a necessidade de mudanças regulatórias para garantir a continuidade dos investimentos no setor.
Desafios e remuneração adequada
Um dos maiores desafios enfrentados pelas hidrelétricas no Brasil é a falta de uma remuneração adequada pelos serviços que prestam ao sistema. Apesar de sua importância para garantir a estabilidade da rede elétrica, as hidrelétricas não recebem uma compensação específica pelos chamados “serviços de flexibilidade”, essenciais para equilibrar as variações de produção das fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica.
Atualmente, as hidrelétricas desempenham um papel fundamental em momentos de transição de carga, especialmente ao final da tarde, quando a produção solar diminui abruptamente e a demanda de energia aumenta. Segundo projeções do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), essa rampa de transição pode chegar a 50 GW até 2028, reforçando a importância das hidrelétricas para o sistema.
Em países onde a participação de fontes intermitentes é significativa, já existem mecanismos de remuneração por serviços ancilares, que são pagamentos feitos às fontes de energia por serviços que vão além da simples geração, como equilíbrio de carga e fornecimento em horários críticos. No Brasil, essa prática continua em estágio inicial, mas é uma das reivindicações da Eletrobras para garantir que as hidrelétricas continuem sendo um pilar da matriz energética.
O que são Fontes intermitentes?
São aquelas geradoras que dependem de condições naturais variáveis para gerar energia, como o vento ou a luz solar. Diferente das fontes contínuas, como as hidrelétricas ou termelétricas, as fontes intermitentes apresentam oscilações na sua produção, já que estão sujeitas a mudanças climáticas. A energia solar e a energia eólica são exemplos comuns, gerando eletricidade apenas quando o sol está brilhando ou o vento está soprando. Essas características tornam as fontes de energia intermitentes importantes, mas exigem sistemas de apoio para garantir o equilíbrio da demanda energética em momentos de baixa produção.
Modernização de usinas e novos investimentos
Com a renovação das concessões de diversas usinas em 2022, a Eletrobras iniciou um ambicioso programa de modernização, que busca ampliar a vida útil de suas hidrelétricas e aumentar sua eficiência. A maior usina da empresa, Tucuruí, localizada no Pará, está passando por uma série de atualizações tecnológicas, que serão concluídas nos próximos anos. Além de Tucuruí, outras usinas importantes como Furnas e Paulo Afonso também estão sendo modernizadas.
Esse processo de modernização é fundamental para garantir que as hidrelétricas continuem operando de forma eficiente, além de aumentar a capacidade de geração das usinas. Ao atualizar equipamentos e sistemas, a Eletrobras também está se posicionando para enfrentar o crescente desafio das fontes intermitentes e garantir a segurança energética do país.
Além dos projetos de modernização, a Eletrobras está investindo em novas tecnologias, como as usinas reversíveis, que atuam como grandes sistemas de armazenamento de energia.
O que são Usinas reversíveis?
Também conhecidas como usinas hidrelétricas reversíveis, são sistemas de armazenamento de energia que utilizam a água para gerar eletricidade de forma controlada. Durante períodos de baixa demanda ou alta produção de fontes intermitentes, como solar e eólica, essas usinas bombeiam a água para um reservatório superior. Quando a demanda por energia aumenta, a água é liberada de volta para um reservatório inferior, passando por turbinas que geram eletricidade. As usinas reversíveis são uma solução eficaz para equilibrar a oferta e demanda no sistema elétrico, oferecendo flexibilidade e segurança energética.
Usinas Hidrelétricas e o uso múltiplo das águas
Além de gerar eletricidade, os reservatórios hidrelétricos são fundamentais para o controle de cheias, a navegabilidade de rios e o turismo. Um exemplo notável é o Lago de Furnas, em Minas Gerais, onde a presença do reservatório impulsiona a economia local através do turismo e das atividades de lazer.
A Eletrobras tem também se envolvido em iniciativas de revitalização das bacias hidrográficas e de descarbonização na Amazônia, como parte de suas responsabilidades ambientais após o processo de capitalização da empresa em 2022. Essas ações visam não apenas compensar os impactos ambientais das usinas, mas também contribuir para a sustentabilidade a longo prazo dos recursos hídricos no Brasil.
O futuro das hidrelétricas no brasil
A Eletrobras está confiante de que as hidrelétricas continuarão desempenhando um papel fundamental na matriz energética do Brasil, mas defende que mudanças são necessárias para garantir a viabilidade econômica dessas usinas. A inclusão das hidrelétricas nos leilões de reserva de capacidade foi um passo positivo, mas a empresa acredita que ainda há muito a ser feito, especialmente no aprimoramento das regras de formação de preços no mercado de energia.
A modernização das usinas existentes e o desenvolvimento de novas tecnologias, como as usinas reversíveis, são passos importantes para garantir a segurança energética do Brasil no futuro. No entanto, é necessário um marco regulatório que reconheça o valor das hidrelétricas no sistema e assegure os investimentos necessários para sua continuidade.