O agronegócio brasileiro, um dos principais motores da economia nacional, enfrenta grandes desafios no transporte de sua produção. Atualmente, mais de 60% dos produtos agrícolas são escoados pelas rodovias, um cenário que aumenta os custos logísticos e compromete a competitividade do setor no mercado global. Recentemente, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) discutiu, em uma audiência pública no Senado, a necessidade urgente de ampliar a rede ferroviária para reduzir os custos de transporte, uma medida que pode gerar uma economia de até 30% nos fretes do setor agrícola.
A audiência destacou o quanto o Brasil ainda depende das rodovias para o escoamento de grãos e outros produtos agropecuários, mesmo com uma safra crescente e a demanda por transportes mais eficientes. De acordo com dados apresentados pelo Infra SA, apenas 18,5% dos produtos agrícolas utilizam ferrovias para transporte, em comparação com 72% da mineração e 9,4% de outros produtos, como siderúrgicos. Essa discrepância reforça a urgência de investimentos em infraestrutura ferroviária, particularmente em regiões onde a produção logística agrícola está em expansão, como o Centro-Oeste e o Matopiba (área entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
A logística atual e seus desafios
O agronegócio brasileiro tem se expandido anualmente, principalmente em áreas como o Mato Grosso e os estados da região Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Com a safra nacional de grãos crescendo aproximadamente 12 milhões de toneladas por ano desde 2009, a infraestrutura de transporte não conseguiu acompanhar esse ritmo. Embora a utilização de ferrovias tenha aumentado de 11% em 2010 para 18,5% em 2023, a oferta ferroviária permanece insuficiente para atender essa demanda crescente.
As regiões Sul e Sudeste, onde a densidade de linhas ferroviárias é maior, apresentam um cenário mais consolidado em termos de infraestrutura. No entanto, nas novas fronteiras agrícolas, como no Centro-Oeste e Matopiba, a escassez de ferrovias é evidente. Isso resulta em uma dependência excessiva do transporte rodoviário, que é mais caro e menos eficiente em termos de sustentabilidade.
O impacto econômico do transporte ferroviário
A adoção de ferrovias como meio principal de transporte agrícola tem potencial de reduzir os custos em até 30%, segundo estimativas da CNA. Esse número é significativo, considerando o volume de produção do setor. Além de ser mais barato, o transporte ferroviário oferece maior capacidade de carga por viagem e um menor impacto ambiental, com emissões reduzidas de gases de efeito estufa em comparação ao transporte rodoviário.
Entretanto, os investimentos necessários para ampliar a malha ferroviária no Brasil são consideráveis. A construção de novas linhas férreas tem um custo estimado de R$ 20 milhões por quilômetro, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Atualmente, o Brasil possui 30 mil quilômetros de ferrovias, mas apenas 15 mil estão em pleno funcionamento.
A Ferrogrão
Entre os projetos mais pensados e analisados está a Ferrogrão, uma linha ferroviária de aproximadamente 933 quilômetros que ligará Sinop, no Mato Grosso, a Miritituba, no Pará. Esse projeto é defendido pela CNA e outras entidades como uma solução para o escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste, uma das regiões mais produtivas do país. A Ferrogrão tem o potencial de transformar a logística de transporte, conectando áreas de produção com os portos do Norte do Brasil, facilitando o acesso ao mercado internacional.
A Ferrogrão não apenas reduziria os custos de transporte, como também aliviaria a pressão sobre as rodovias da região, que enfrenta problemas frequentes de infraestrutura, como congestionamentos e problemas devido ao tráfego intenso. O projeto é considerado estratégico para o futuro do agronegócio brasileiro, mas ainda enfrenta obstáculos para sua implementação, incluindo questões ambientais e a necessidade de maior agilidade no processo de aprovação e licenciamento.
Um caminho para a sustentabilidade
Além da redução dos custos, o transporte ferroviário também oferece vantagens em termos de sustentabilidade. As emissões de gases poluentes no setor ferroviário são significativamente menores quando comparadas ao transporte rodoviário, contribuindo para a redução da pegada de carbono do agronegócio. Com o aumento das discussões globais sobre mudanças climáticas e práticas mais sustentáveis, a ampliação das ferrovias pode ser uma estratégia importante para melhorar a imagem do Brasil no mercado internacional, tornando seus produtos agrícolas mais competitivos e ambientalmente responsáveis.
Atualmente, a discussão sobre a necessidade de investir em ferrovias é central para o futuro da logística do agronegócio. Embora a produção tenha tido de forma significativa nas últimas décadas, a infraestrutura de transporte não acompanhou esse crescimento de maneira proporcional. O Brasil ainda transporta mais de 60% de seus produtos agrícolas por rodovias, um modelo que encarece o processo logístico e sobrecarrega as estradas.
As ferrovias no Brasil
Para que o Brasil possa se consolidar como um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo, é fundamental que os investimentos em infraestrutura sejam acelerados. Projetos como o Ferrogrão são importantes para garantir que o escoamento da produção seja eficiente, sustentável e economicamente viável. Além disso, o aumento da participação das ferrovias no transporte de produtos agrícolas poderia aliviar a pressão sobre o sistema rodoviário, que atualmente opera em sua capacidade máxima.
A aprovação de novos projetos e a ampliação da malha ferroviária são passos essenciais para garantir que o agronegócio brasileiro continue crescendo de forma sustentável e competitiva. A expectativa é que, com a aprovação da Ferrogrão e outros projetos de infraestrutura, o Brasil possa transformar o panorama do transporte de cargas agrícolas, reduzindo custos e ampliando sua eficiência logística.
O crescimento do agronegócio no Brasil depende de uma infraestrutura de transporte que acompanhe o aumento da produção. As ferrovias, com seu potencial de redução de 30% nos custos de transporte, são uma solução promissora para o escoamento da safra nacional.