A renovação antecipada da concessão da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), operada pela VLI, enfrenta uma série de obstáculos. O governo da Bahia, representantes de setores empresariais, especialistas e políticos locais manifestaram preocupações durante uma audiência pública em Salvador, evidenciando a insatisfação com os moldes atuais de renovação. A principal demanda é a inclusão de um compromisso formal para a modernização do corredor ferroviário entre Minas Gerais e Bahia, especialmente no trecho entre Corinto (MG) e Campo Formoso (BA). Esse trecho, apesar de sua relevância econômica, tem sido alvo de críticas pela falta de investimento, e muitos questionam se a renovação da concessão, sem compromissos, seria uma decisão prudente.
Contexto e pressões da Bahia
A Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e outros representantes de peso reforçam o pedido de revisão dos termos da renovação. Segundo a Fieb e outros especialistas, os trechos da FCA em território baiano sofrem com uma infraestrutura obsoleta e, consequentemente, baixa em eficiência operacional. Para eles, permitir a renovação sem melhorias equivaleria a “premiar o descaso” com que a empresa tratou a ferrovia, negligenciando a oportunidade de impulsionar o desenvolvimento logístico da região.
Além disso, as lideranças políticas e empresariais defendem que o aditivo contratual deve incluir, obrigatoriamente, um plano detalhado para a modernização do corredor Minas/Bahia. Esta atualização teria como objetivo potencializar o transporte de cargas e aumentar a competitividade do setor logístico regional, beneficiando as indústrias locais, que dependem da ferrovia para escoar seus produtos. Para fortalecer esses argumentos, a Fundação João Cabral apresentou estudos que indicam um potencial de demanda de carga, contradizendo a alegação da VLI de que o trecho não possui volume suficiente de transporte para justificar o investimento.
Posicionamento da VLI e alternativas
Em resposta às pressões locais, a VLI, operada majoritariamente pelo fundo canadense Brookfield e pela Vale, argumenta que a modernização completa do trecho Corinto-Campo Formoso demandaria investimentos em torno de R$ 25 bilhões, um valor que a empresa considera elevado e economicamente inviável. No entanto, especialistas e estudos independentes estimam que o custo real para modernizar os 795 km do corredor, incluindo a transição para uma bitola larga, seria menor, girando em torno de R$ 6 bilhões, dependendo do projeto.
Além disso, diante da resistência da VLI, alternativas à renovação direta da concessão foram apresentadas durante a audiência pública e nas discussões recentes. Cada uma dessas opções possui implicações distintas para a gestão e viabilidade do corredor ferroviário.
A mudança de operador, por exemplo, seria um processo complexo e demorado, mas, em teoria, abriria espaço para empresas com maior disposição para investir. Por outro lado, manter a VLI sob novos termos poderia garantir certa continuidade operacional e possibilitar uma transição gradual para uma infraestrutura mais moderna.
Economia e estratégia
Para economistas e autoridades baianas, o impasse sobre a modernização vai além de uma disputa comercial entre o governo estadual e a VLI. O setor logístico é essencial para o desenvolvimento econômico da Bahia e que os trechos ferroviários, especialmente o corredor Minas/Bahia, são estratégicos para o escoamento de produtos como grãos, minérios e outros bens de exportação.
Diante da potencial demanda de carga, diversos empresários baianos afirmaram que a FCA seria economicamente viável e competitiva, caso sua modernização fosse concluída. Essa reestruturação do corredor não apenas beneficiaria a economia baiana, mas também contribuiria para reduzir a dependência do transporte rodoviário, o que traria benefícios ambientais e ajudaria a descongestionar importantes vias estaduais e federais. No entanto, a indefinição em torno da concessão e a falta de garantias sobre a modernização têm levado esses mesmos empresários a buscarem alternativas logísticas, muitas vezes menos eficientes e mais caras, enfraquecendo a competitividade das empresas locais.
Concepções
O impasse em torno da renovação da concessão da Ferrovia Centro Atlântica reflete os desafios enfrentados pela infraestrutura ferroviária no Brasil, onde, frequentemente, questões econômicas e interesses regionais entram em conflito com as estratégias das operadoras privadas. A Bahia permanece firme em sua exigência de que qualquer renovação da concessão inclua um compromisso concreto de modernização, enquanto a VLI resiste, citando questões de viabilidade econômica. Para as autoridades baianas e diversos setores locais, essa modernização é vista como fundamental para o desenvolvimento da infraestrutura estadual e a competitividade da economia regional.
A decisão final ainda está em aberto e terá consequências profundas para a Bahia e Minas Gerais. Caso a renovação da concessão não inclua a modernização do corredor, o setor industrial baiano e a população local poderão continuar pressionando por uma mudança de operador ou por alternativas que garantam um desenvolvimento logístico mais eficiente e compatível com as necessidades atuais e futuras da economia do estado.