Quem frequenta salas de embarque nas maiores cidades brasileiras já percebeu a mudança: voos mais frequentes, assentos ocupados e terminais movimentados em horários cada vez mais variados. Segundo projeções recentes da IATA em parceria com o Ministério de Portos e Aeroportos, esse cenário tende a se intensificar. O número de viajantes pode alcançar a casa dos 240 milhões anuais em pouco mais de uma década.
No rastro dessa movimentação crescente, o REC – Aeroporto Internacional do Recife conhecido como Guararapes, o terminal administrado pela Aena Brasil, planeja receber muito mais movimento do que o normal.
Aviões lotados, aeroportos cheios
O Nordeste está aquecido. A malha aérea, que antes girava em torno de alguns centros tradicionais, começa a se redistribuir. E o REC, com suas mais de 30 conexões ativas, entra na rota dos principais players da aviação.
Com 8 milhões de passageiros registrados em 2024, conforme dados da ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, o terminal já opera acima da capacidade estimada. Enquanto isso, empresas como Azul, TAP e outras testam novas frequências e rotas. Recife-Salvador, Recife-Buenos Aires e Recife-Lisboa estão entre os trechos que prometem aumentar o fluxo de voos nos próximos ciclos.
A conta chega no embarque
Com o aumento no fluxo, o terminal precisa acelerar a modernização. O planejamento envolve a ampliação do pátio de aeronaves, mais posições de embarque e novas áreas de convivência para passageiros. Há também planos para incluir biometria nos processos, encurtando o tempo de embarque.
Totens de autoatendimento já agilizam parte da experiência, mas a fila para a segurança e o controle de passaportes ainda exige paciência. Sem uma expansão proporcional à demanda, o que hoje já é um incômodo pontual pode virar um problema estrutural.
Menos tempo, mais trânsito
O REC está localizado a cerca de 11 km do centro urbano. Para quem chega, o tempo estimado varia de 15 a 25 minutos, seja de metrô ou por aplicativo. Porém, com a perspectiva de maior fluxo, é inevitável pensar na saturação dos acessos, tanto rodoviários quanto ferroviários.
Quem optar por serviços de transporte por aplicativo vai pagar entre R$ 15 e R$ 40, dependendo do horário e da demanda. Já o metrô, mais barato e rápido, pode se tornar lotado nos horários de pico.
E se faltar espaço na sala VIP?
Um item que deve atrair atenção de executivos e viajantes frequentes é o conforto. Atualmente, a sala VIP operada pela Luck Viagens atende a uma fatia dos passageiros, com valores entre R$ 100 e R$ 150 por acesso. Mas o espaço pode não dar conta do crescimento previsto.
Lounges corporativos, áreas exclusivas para famílias, conectividade eficiente e novas opções gastronômicas estão no radar dos frequentadores mais exigentes. É nesse ponto que a infraestrutura de apoio precisa ser pensada como prioridade, não como acessório.
Quando os voos não saem no horário
O relógio é outro fator que pode pesar. Em horários como 6h às 8h e 17h às 19h, o movimento de decolagens e aterrissagens tende a se intensificar. Com a pista em uso contínuo, atrasos podem se tornar mais comuns. O planejamento passa a ser mais que uma recomendação: vira necessidade.
A Aena Brasil já analisa a reestruturação de grades horárias e estuda ampliar a oferta de posições remotas para estacionamento das aeronaves. Ainda assim, o gargalo operacional pode afetar a performance do terminal se nada for feito nos próximos dois anos.
Mais voos, preços mais amigáveis
A lógica é simples: quanto mais empresas oferecendo o mesmo serviço, melhor para o consumidor. O crescimento da malha pode favorecer tarifas mais acessíveis, sobretudo nos trechos entre capitais do Nordeste e centros econômicos como São Paulo e Rio de Janeiro.
No entanto, esse cenário depende de equilíbrio entre oferta e demanda. O aumento na frequência de voos não garante preços baixos se a infraestrutura terrestre continuar limitada. Investir no aeroporto sem investir no entorno é receita certa para frustração.
O novo xadrez aéreo brasileiro
Hoje, Guararapes disputa atenção com Brasília e Salvador, dois concorrentes diretos quando o assunto é se tornar o próximo grande ponto de conexão do país. A diferença é que Recife tem localização privilegiada para integrar o litoral nordestino com destinos internacionais da Europa e da América do Sul.
A TAP estuda ampliar suas operações em Pernambuco, o que pode reforçar esse novo eixo de conexões. Já a Latam aposta em novas rotas de médio alcance, e a Azul segue priorizando o mercado doméstico. A briga por espaço promete movimentar o setor nos próximos anos.
Expectativas até 2037
O número de passageiros deve dobrar. Passar de 120 milhões para 240 milhões por ano. Esse salto obriga aeroportos como o REC a pensar em um novo tipo de gestão. Não basta mais operar voos. É preciso administrar experiências, encurtar distâncias e garantir fluidez.
O prazo não é tão longo quanto parece. Quem vive o dia a dia da infraestrutura sabe que qualquer ampliação leva anos entre projeto, aprovação, licitação e execução. Por isso, cada semestre conta.
Planejamento é a palavra do jogo
Com todas as variáveis envolvidas, do aumento da classe média à expansão do turismo regional, o setor aéreo pede por planos realistas. Isso inclui desde a revisão da malha até incentivos para companhias que operem em horários alternativos.
A decisão de agir agora ou esperar mais alguns ciclos econômicos, pode definir quais terminais terão condições de competir de forma equilibrada nos próximos anos.
Embora os números sejam impressionantes, o investimento necessário para adaptar o Aeroporto Internacional do Recife ao novo cenário ainda está sendo discutido. Estima-se que a ampliação da infraestrutura possa ultrapassar a casa das centenas de milhões em aportes privados e públicos.
A sinergia entre operadores, governos e concessionárias será crucial para fazer os projetos saírem do papel. O histórico recente mostra que é possível acelerar obras quando há coordenação entre os envolvidos.
Um olho na pista, outro no horizonte
Quem acompanha o setor já entendeu: não se trata apenas de aumentar o número de voos. O que está em jogo é a capacidade de manter o ritmo sem perder qualidade. Esse equilíbrio será o diferencial entre aeroportos preparados e terminais que vivem no limite.
O REC, nesse contexto, é um termômetro valioso. Como uma peça de um quebra-cabeça nacional, o desempenho do terminal pode indicar se o Brasil vai conseguir acompanhar a velocidade da demanda nos próximos 12 anos.
FAQ
1 – Voos vão realmente dobrar até 2037?Sim, segundo estimativas da IATA e do Ministério de Portos e Aeroportos, o volume pode atingir 240 milhões de passageiros por ano.
2 – O Aeroporto Internacional do Recife está pronto para isso? Atualmente, opera acima da capacidade e já possui planos de expansão coordenados pela Aena Brasil. Mas ainda são necessários novos investimentos em estrutura e serviços.
3 – Haverá mais rotas internacionais saindo de Recife? A tendência é de aumento. Empresas como TAP e Latam já sinalizaram intenção de ampliar operações internacionais a partir do Nordeste.